quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Capítulo 1

        Faltava pouco para as quatro da madrugada de um dia de semana . Minha cabeça estava a mil quando Jacobi encostou nosso carro em frente ao Lorenzo , um pulgueiro que cobrava por hora apesar de ter a palavra       Hotel pintada na porta. Estávamos no Tenderloin District de São francisco , uma área da cidade tão sinistra que nem o sol tinha coragem de atravessar aquela rua .
Três viaturas da policia já estavam estacionadas perto da calçada e Conklin , o primeiro oficial a chegar , fazia o isolamento do local junto com a Les Arou , outro policial.
-O que temos aqui ? -perguntei aos dois
-Um rapaz , tenente-respondeu Coklin - Branco , menos de 20 anos , com os olhos esbugalhados . Torradinho da silva . Quarto 21. Nenhum sinal de arrombamento. A vítima esta na banheira, como na ultima vez.
       Jacobi e eu sentimos o fedor de mijo e vômito assim que entramos no hotel .
      Não havia porteiro , elevador ou serviço de quarto . Os hóspedes se escondiam nas sombras , com exeção de uma prostituta de pele cinzenta que puxou Jacobi pelo braço .
-Vinte pratas e dou o numero da placa- ouvi a mulher dizer
Jacobi lhe entregou uma nota de 10 e recebeu em troca três numeros num pedaço de papel. Em seguida foi até o recepcionista e fez algumas perguntas sobre a vitima : se ele dividia o quarto com alguém , se ele tinha cartão de crédito ou algum hábito que chamasse atenção.
Desviei de um cara drogado na escada e subi até o segundo andar. A porta do quarto 21 estava aberta e um policial novato na vigiava o local.
-Boa noite , tenente Boxer
-já é de manhã, Keresty .
-Sim, senhora - respondeu ele, anotando o horário da minha chegada e entregando-me a prancheta para que eu assinasse .
A escuridão do quarto era ainda maior do que a do corredor . Não hávia luz devido a um curto-circuito na caixa de força. Cortinas finas pendiam como fantasmas a luz da rua . Eu analisava o quebra-cabeça, tentando identificar o que muitos objetos e quase nenhuma iluminação .
   Acendi a lanterna e vi os cachimbos de crack jogados pelo carpete , o colção manchado de sangue seco , as pilhas de lixo azedo e as roupas espalhadas . Havia uma copa-cozinha num dos cantos : a boca do fogão ainda estava quente e a pia entulhada com apetrechos para o consumo de droga .
O ar do banheiro era pegajoso .Corri a luz da lanterna pelo fio que saia da romada da pia , passava pelo vaso sanitário entupido e seguia até a banheira .
Meu estômago revirou assim que vi o garoto morto.Era Louro , magro e quase não tinha pelos. Sentado na banheira , o menino estava com os olhos esbugalhados e com espuma saindo da boca e do nariz . O fio estava ligado a uma velha torradeira que brilhava sob a superfície da água .
-Merda- comentei com Jacobi assim que ele entrou no banheiro - Lá vamos nós outra vez.
-É ... torrado ele está! - disse Jacobi
Na qualidade de chefe do Departamento de Homicídios , não cabia a mim fazer o trabalho de pericia . Porem , em cituações como aquela , não era possivel ficar de braços cruzados .
Outro garoto havia sido eletrocutado , mas porque ? . Seria mais uma vítima aleatória da violência ou haveria algum motivo pessoal ? Imagina o pobrezinho se retorcendo de dor enquanto a corrente elétrica passava pelas suas veias até desligar seu coração.
A água empoçada no piso encharcava a barra da minha calça . Empurrei devagar a porta do banheiro com o pé , sabendo muito bem o que encontraria .
As dobradiças , que certamente nunca aviam sido lubrificadas ,  rangeram até a porta se fechar por completo .As palavras estavam pintadas   com tinta spray. Pela primeira vez em poucas semanas perguntei a mim mesma que diabos poderiam significar :
                                                  NINGUÉM SE IMPORTA !

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